sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Dia 27 de novembro, dia nacional pela legalização da maconha e de prevenção ao câncer: estratégias de politização, descriminalização, legalização e promoção da saúde.


Dia 27 de novembro é o dia nacional pela legalização da maconha e de prevençao ao câncer.  Em torno do debate acerca do uso medicinal da maconha estão também outros processos como a descriminalização do usuário, legalização das drogas e a promoção da saúde. Falar de maconha medicinal significa falar também de uma estratégia de politização do uso de drogas e sua repercussão na esfera social. Foi apenas na nossa sociedade contemporânea em que se declarou guerra às drogas, uma guerra que tem cor e classe. A mercantilização de determinadas substâncias produz efeitos perversos que evidenciam ainda mais as contradições do nosso modelo de desenvolvimento.

A ATUAL LEI DE DROGAS BRASILEIRA: A CRUZADA MORAL DA ROTULAÇÃO DO DESVIO
A atual lei de drogas, 11.343 de 2006, reduziu a pena para usuários, porém aumentou a pena de reclusão por tráfico de drogas. A Lei não distingue usuário de traficante, isso causa consequências no tempo de prisão, mas é possivel traçar uma linha em que usuários estão de um lado e traficantes estão do outro? Partindo da vivência de que usuários partilham quantidades entre si, estes seriam traficantes segundo a Lei. Compreende? A Lei de drogas não condiz com a realidade da cultura de drogas e não compreende as diferentes formas de usos envolvidas nessa sociabilidade.
Ainda, o julgamento de quem é usuário ou traficante acaba por pertencer ao policial que faz o flagrante, abrindo ainda mais margem para o desenrolo já sabido ou, em outras palavras, suborno. O idioma falado por quem experimenta não corresponde à realidade produzida pela aplicação da atual lei de drogas.

AS DROGAS SÃO A EXPRESSÃO DE DIFERENTES MODOS DE ENGAJAMENTO COM O MUNDO
Algumas pesquisas - como Howrad Becker, 2008; Eduard MacRae, 2000; Giberto Velho, 1980 e Alba Zaluar, 1994 – sugerem que para se compreender o consumo de drogas é preciso levar em consideração não só os componentes químicos das substâncias, mas também fatores socioculturais. O que está em jogo é o uso que se faz da droga, e não a substância em si. Partir dessa concepção significa questionar associações infundadas como a relação entre drogas e violência, drogas e transtorno mental, por exemplo. Não são junções óbvias, são atravessadas de julgamentos morais e rotulação de determinados comportamentos que vão de encontro à perspectiva biomédica de extensão da vida em detrimento da intensidade, legitimada pelos saberes médicos e jurídicos. Estamos falando de modos de engajamento com o mundo que são aceitos ou não, permitidos até certo ponto, desde que...

E O DEBATE NO STF?
Chegou à instância do Supremo Tribunal Federal um recurso movido pela Defensoria Pública de São Paulo em favor de um réu pego com 3 gramas de maconha na prisão. A Defensoria argumenta que a lei fere o direito à liberdade, à privacidade, e à autolesão (direito do indivíduo de tomar atitudes que prejudiquem apenas si mesmo), garantidos na Constituição Federal. Os 11 ministros estão analisando um Recurso Extraordinário que questiona se o artigo 28 da Lei de Drogas é inconstitucional. Esse artigo prevê que é crime adquirir, guardar ou transportar droga para consumo pessoal, assim como cultivar plantas com essa finalidade.
Fachin, Barroso e Gilmar Mendes se posicionaram contra a criminalização. Faltam ainda os votos de oito ministros para uma decisão final sobre o assunto. Em entrevista à BBC, Barroso disse que esse julgamento “pode ser o marco inicial de uma nova política pública em matéria de drogas. Um primeiro passo que possa levar a uma política de legalização e eliminação do poder do tráfico. Para usar um lugar comum: Roma não se fez em um dia. A gente na vida tem que respeitar o ciclo de amadurecimento da sociedade.”  
Fachin e Barroso seguiram parcialmente o voto proferido em agosto pelo relator do caso, ministro Gilmar Mendes. Na ocasião, ele votou para derrubar o caráter penal do porte para consumo de qualquer droga. Fachin e Barroso, no entanto, restringiram a descriminalização apenas para a posse de maconha voltada para uso próprio.
Ao votar, Barroso afirmou que o cidadão tem o direito de escolher o que fazer com o próprio corpo. "O Estado tem todo o direito de combater o uso, de fazer propaganda, de fazer advertências, mas punir com o direito penal é uma forma de autoritarismo e paternalismo que impede o individuo de fazer suas escolhas individuais", afirmou.
                                         
INICIATIVAS PARLAMENTARES
Em 2014 o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) protocolou um projeto de lei que prevê a produção e venda de maconha no país. Pela proposta, o governo teria o controle da comercialização por meio do registro dos locais de produção e pontos de venda, além de ficar obrigado a padronizar e inspecionar o produto. Também fica permitido o cultivo limitado da planta da cannabis, matéria-prima da droga, dentro da casa do usuário.
Em contrapartida, o deputado Osmar Terra (PMDB-RS) tem outro projeto de lei que endurece a atual lei de drogas, anteriormente citada. Ele considera que a maconha é uma droga pesada. O deputado critica a política de drogas implantada no Uruguai, dizendo que éum desastre! Para a juventude uruguaia e para nós, que vamos receber um grande incremento na importação de drogas. Assim como temos uma grande importação por conta do narco-Estado da Bolívia, onde se planta coca livremente. O crack que os meninos do Rio e São Paulo fumam vem da pasta-base boliviana, principalmente depois que o Evo Morales assumiu a presidência. A questão das drogas é séria e grave. Eu respeito a história do Mujica, mas ele está mal assessorado. O Julio Calzada, que é o responsável por pensar a política de drogas por ele, é uma pessoa que milita numa corrente filosófica. Eu estive no Senado uruguaio para debater isso. Os argumentos deles estão longe de ter qualquer embasamento científico. São ideológicos: “a pessoa deve ter a liberdade de usar”. São argumentos que podem ser rebatidos da mesma maneira. Alguém que tem a liberdade de usar e não consegue trabalhar por isso, prejudica a pessoa que tem que trabalhar mais para sustentá-la. A liberdade também é um conceito social. Ou todos têm liberdade ou ninguém é livre.
Para aprofundar o debate, leia: http://oglobo.globo.com/sociedade/osmar-terra-jean-wyllys-debatem-politica-de-drogas-brasileira-12171237

LEGALIZA! É PELA VIDA!
Já foi comprovado cientificamente que diferentes usos da maconha podem aliviar a dor e os sintomas de diversas doenças, como Quimioterapia e aids, esclerose múltipla, epilepsia e dores crônicas. Além de Alzheimer, diabetes, Doença de Chron, glioma, hepatite C, Doença de Huntington, hipertensão, incontinência urinária, osteoporose, artrite reumatoide, Síndrome de Tourette, glaucoma. Clique aqui para conhecer estudos relacionados a estes diagnósticos e o uso medicinal da maconha: http://campanharepense.org/estudos/
Legalizar a maconha para fins terapêuticos representa um avanço para a medicina. A tese é defendida por Elisaldo Carlini, psicofarmacologista, professor da Faculdade Federal de Medicina de São Paulo, (Unifesp) e membro do comitê de peritos da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre álcool e drogas.  Em outras palavras, “os remédios normais não aliviam a pressão”, mas enquanto isso ainda tem muito índio sendo preso por “fumar o cachimbo da paz”.
Hoje, no Brasil, já poderíamos ter o uso por compaixão: o médico prescreve o produto que é fabricado na Inglaterra ou nos EUA e o paciente tem o direito por lei de fazer com que o governo brasileiro autorize a importação. Mas a burocracia é infernal e apenas quem tem condições financeiras se beneficia com esta forma de fazer acontecer. Pensar a medicalização da maconha não deve ser um processo de via única em que aqueles que são presos e mortos em decorrência da proibição da droga não protagonizam o debate.
De acordo com um relatório dos repórteres Willian Ferraz, Hugo Bross, Kaio Diniz e Vanderson Freizer, 56% dos assassinatos no Brasil têm ligação direta com o tráfico. Os mortos, em sua grande maioria, são jovens pobres de 15 a 25 anos. E são mais de 50 mil mortes por ano. Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), só no Rio de Janeiro, em 2013, houve 4761 homicídios, 16,7% mais que em 2012. Desse total, 416 foram assassinatos cometidos pela polícia e registrados sob o eufemismo de "auto de resistência". Mas essa "guerra" impediu que as pessoas consumissem drogas ilícitas? Não. De acordo com um estudo do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas da Unifesp, a maconha é consumida por mais de um milhão de brasileiros, e 7% dos adultos já fumaram alguma vez. Dentre eles, 62% tiveram o primeiro contato com a maconha antes dos 18 anos de idade.
A juventude negra e pobre é a principal vítima da criminalização das drogas, o resultado disso é o encarceramento em massa e o genocídio dessa população. Além disso, aumenta exponencialmente o número de mulheres que são presas pelo crime de tráfico, é muito comum que mulheres sirvam de mulaspara o transporte de drogas. Legaliza! É pela vida!

EXPERIÊNCIAS DA MEDICALIZAÇÃO DA MACONHA EM OUTROS PAÍSES



ISRAEL
O Ministério da Saúde mantém um programa de cannabis medicinal que em 2013 fornecia maconha in natura para cerca de 13 mil pacientes. A droga é cultivada por uma empresa criada pelo governo para atender ao programa. A solicitação deve ser feita via fax ou e-mail pelo médico do paciente e é avaliada por um dos 31 médicos que fazem a triagem dos casos. Os pedidos devem ser respondidos em até 48 horas, no caso de pacientes terminais, e em até 2 semanas, no de pacientes de câncer em quimioterapia. 



CANADÁ
Em 2001, por determinação da Justiça, o país criou o primeiro programa federal de maconha medicinal do mundo. O Regulamento de Acesso à Maconha Medicinal permitia que pessoas com indicação médica e cadastro no programa pudessem comprar a erva do governo ou cultivá-la. A partir de março de 2014, uma nova regulamentação determina que os pacientes com prescrição médica comprem maconha diretamente nos produtores licenciados pelo governo. No início de 2013, o Canadá tinha 28 mil pacientes com autorização para usar cannabis medicinal. 



EUA
Um plebiscito realizado na Califórnia aprovou, em 1996, uma lei que regula o uso medicinal de maconha e de produtos derivados. Atualmente, outros 22 estados e o Distrito Federal têm leis semelhantes. Na maioria dos estados, o paciente que tem a indicação de um médico para o uso terapêutico de Cannabis pode portar, plantar ou comprar a erva em lojas que funcionam como cooperativas. Apesar de a lei dos EUA considerar crime qualquer uso de maconha, as autoridades federais respeitam as leis estaduais sobre o tema. 



HOLANDA
O país criou em 2011 um Escritório de Cannabis Medicinal para organizar a cadeia produtiva da droga para uso terapêutico e científico. Apenas uma empresa tem autorização do governo para produzir maconha medicinal para o governo, com um rígido controle de qualidade. Ela fornece quatro variedades, cada uma indicada para um tipode doença. Todos os tipos podem ser comprados em farmácias comuns, com prescrição médica. Os cerca de 10 mil pacientes medicinais do país podem pedir reembolso do plano de saúde pelos gastos com a droga. 

OUTROS PAÍSES
Áustria, Bélgica, Finlândia e República Tcheca também possuem leis que, teoricamente, permitem o acesso à maconha medicinal. Na prática, no entanto, elas são muito restritivas e ajudam pouquíssimas pessoas em cada país. Em 2014, o Uruguai também regulamentou o uso de cannabis medicinal, mas o programa ainda está em seus primeiros passos. 


E NO BRASIL?
Apesar de qualquer produto extraído da Cannabis sativa ser proscrito, a lei brasileira de drogas permite seu uso com fins medicinais. Esse direito, no entanto, ainda não é regulado pela Anvisa, responsável por esse controle. Recentemente, a ANVISA retirou o CBD da lista dos proibidos e agora o THC também está para sair, mas precisa de uma regulação e sanar os problemas que envolvem a circulação de uma droga proibida. É preciso legalizar!

“AI, MEU DEUS, O DIABO É CARETA”- E EU, VOCÊ, A ESQUERDA TAMBÉM SOMOS
O que fazer com tudo isso? Um bom começo é fazer a autocrítica sincera e profunda sobre a ocorrência de um falso moralismo e discurso que convém em determinados espaços e que os permeia. Infelizmente, ou não, nós da esquerda não vivemos em uma bolha. Estamos e somos cotidianamente atravessados por valores e moral que ditam as regras de comportamentos que devem ser seguidos. Pode não parecer simples, mas basta compreender que cada um tem direito ao próprio corpo e à vida, à liberdade. Trata-se de um exercício pedagógico que serve também de analogia para uma porção de outras bandeiras que nos são caras, como a bandeira feminista, de negros e LGBT. Trata-se de um exercício que não, não cabe só a você da esquerda porque teria a responsabilidade militantede fazê-lo, mas também diz respeito à sua família, ao vizinho, ao cachorro e ao papagaio. Falar sobre isso significa falar também de uma estratégia de politização dos processos sociais.







sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Relatório final da Comissão da Verdade de Volta Redonda (2013-2015)



Na última segunda-feira, histórico e memorável 9 de Novembro, foi entregue o relatório final da Comissão Municipal da Verdade em Volta Redonda (2013-2015), comissão que levou o nome de Dom Waldir Calheiros. O documento reúne os graves casos de violação de direitos humanos realizados na cidade durante os anos de 1964 a 1989, compreendendo, portanto, o período da ditadura civil-militar. Para que nunca mais se esqueça, para que nunca mais aconteça: Walmir, Willian e Barroso: Presente, hoje e sempre!

FAÇA AQUI O DOWNLOAD DO RELATÓRIO