-Por Hafid Omar
Setorial de Movimentos Sociais.
Setorial de Movimentos Sociais.
AMANHÃ VAI SER OUTRO DIA? UM DIÁLOGO ENTRE OS 50 ANOS DO GOLPE E A ATUAL
CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS.
Na madrugada de 31 de Março de
2014 completou 50 anos do golpe Civil-Militar de 1964 contra um governo eleito
democraticamente que, pela “acusação” de ser comunista, não era “legítimo” para
os militares e grandes empresários da época. Ironicamente, em 2014, sucedeu um
ano de grandes lutas sociais que evidenciaram o quanto o Estado e a classe
dominante podem ser opressores, mesmo em um conceito de democracia.
Estas manifestações mostraram o
quanto nosso projeto democrático é frágil e dependente das vontades alheias às
populares, mostraram também como ainda carregamos ranços da ditadura e sua
insistente criminalização dos movimentos sociais. Este texto tem o objetivo de
aproximarmo-nos deste debate e refletir sobre os progressos e estagnações da
nossa sociedade pós-ditadura civil-militar.
- 1964 e os anos de chumbo
Após a renuncia de Janio Quadros,
em 1961, o vice eleito (na época o vice era eleito separadamente), João Goulart
“Jango”, assume a presidência com promessas de reformas de base, reformular a
educação, a distribuição de terras, os impostos e a política de moradia urbana.
Promessas estas que interferiam nos interesses de muitos empresários, nacionais
e internacionais, o que justificara o apoio dos Estados Unidos ao golpe no
Brasil. Apoio este dado Militarmente, como já comprovado em arquivos (por link
operação condor), mas também de outras maneiras como a vinda do padre Peyton,
pároco de Hollywood que, bancado pela CIA, arrastava multidões nas marchas pela
família e com Deus pela liberdade, manipulando a religiosidade e moralidade do
povo brasileiro com a finalidade de atacar a democracia e Jango, legitimando o
GOLPE.
Em 13 de Março de 1964, em frente ao prédio do ministério doexército , na Central do Brasil, Jango promoveu um comício em que, ovacionado
pela multidão, assinou decretos de apropriação, pela Petrobras, de refinarias privadas, e desapropriação de
terras sub-utilizadas. Ao ver que as promessas de outrora começara a tomar
corpo, as classes dominantes se preocuparam.

Em 1968, o que era claro como o
dia, torna-se claro como o próprio sol e é assinado pela ditadura o ato
institucional n.º5, onde se acaba com a pouca liberdade que ainda restava,
legitimando torturas, prisões políticas, banimentos e ocultamento de cadáveres como
políticas de Estado. Mostrando que este governo ditatorial não estava com a
intenção de restabelecer uma democracia plena, até porque Jango, o presidente
deposto, foi eleito democraticamente, mas sim implantar um sistema de
interesses do grande capital internacional e nacional, com alta dependência do
capital internacional, produção visando o mercado externo e VIOLÊNCIA, muita
violência, contra aqueles que acreditavam na liberdade e queriam dizer ao mundo
das verdades escondidas pela Ditadura e a mídia.
Uma ditadura tão patriótica tinha
investimento de grandes impérios como os Estados Unidos e outros que tinham
interesse direto nesta pátria, além de muitas empresas terem financiado e
apoiado a ditadura. Um regime pautado na moral, bons costumes e família, tinha
como moral uma anti-democracia censurizante e como bons costumes a tortura,
estupro, assassinatos e ocultamento de cadáveres, acabando com famílias e
familiares que, quando vivos, enlouquecidos e em paranoia, não conseguiam viver
como antes, já mortos, se quer tinham direito de velar seus entes queridos.
Então o que era para ser um
governo provisório durou 21 anos. Em 1984, após campanhas de diretas já,
força-se a reabertura democrática, porém o presidente não é eleito por votos
diretos da população e sim pelo congresso, o povo brasileiro só vem a eleger um
presidente, diretamente, em 1989, ainda, porém, até os dias de hoje, pagamos
por uma dívida contraída na Ditadura e o dia que durou 21 anos continua a
perdurar nos calabouços escuros e sujos de sangue, ATÉ HOJE são mais de 50
anos!
- Brasil pós-ditadura
Com a redemocratização do país o
Brasil passa por um intenso projeto cultural e os artistas que antes foram
censurados relançam suas músicas desta vez sem a censura
política/governamental. No entanto a ditadura deixa para a Democracia um legado
de violência estatal, endividamento e acorrentamento ao capital internacional,
grandes latifúndios, oligarquias e grandes empresas monopolistas etc. Grandes
“entulhos” que até hoje buscamos maneiras de “limpar”
1. Anistiados e comissão da verdade

Infelizmente a Atual Presidente
não é a favor desta revisão, mesmo o Brasil sendo condenado duas vezes pela
Corte Americana de direitos humanos devido a esta lei que na realidade fez
parte do pacto de redemocratização “pacífica”. Pacto que a Presidente querreforçar, mas esquece-se da própria história e de como foi pactuado.
A comissão da verdade, também prejudicada por esta lei de anistia, além da dificuldade de trabalhar com o tempo, por diversas vezes se depara com a dificuldade de ter acesso aos arquivos por desmandos de altas-patentes. Além disto tem sua competência tolida, sendo meramente investigativa, sem competência, em regra, de encaminhar à justiça as devidas provas, para julgamento.
2. Militarização do Estado e violência de Estado.

Com o risco de fugir do contexto
não poderia deixar de mostrar que a violência de Estado tem alvo fixo: o
Trabalhador e trabalhadora pobre, mas não é regra sem exceção e todos sofremos
com esta militarização e violência, até os próprios policiais que tem seus
direitos trabalhistas limitados a trabalharem, sem poder reivindicar seus
direitos, como se ainda tivéssemos na Ditadura civil-militar,distanciando-os da
população e dos princípios democráticos.
O Estado democrático não consegue
se mascarar por muito tempo e, mesmo após 1 mês de Constituição, em 9 de
Novembro de 1988, o exército invade a CSN, na nossa cidade de Volta Redonda, e
mata trabalhadores exercendo seu direito de luta. Não foi o primeiro massacre
pós-ditadura nem fora o último, em 1994 a policia militar junto com os
fazendeiros matam 19 e ferem mais de 60 militantes que lutavam pelo direito à
terra no El dorado dos Carajas, no Pará. Assim é construída a democracia no
Brasil, um capítulo a parte neste livro de opressões.
3. futebol em 70 e 2014
Como em 1970, em 2014 o Governo
usa mega-eventos para salvar sua popularidade, deixando para segundo plano
pautas historicamente defendida, como educação e saúde, humanas e de qualidade. Também reprime violentamente manifestantes contrários a estes investimentos públicos.
O ditador Médici vendo a queda de popularidade do regime militar investiu fortemente na seleção brasileira, transparecendo uma relação íntima com os jogadores e comissão técnica. Assim como tenta fazer os atuais governantes.
4. Empresas da ditadura
Empresas que apoiaram e cresceram
na época da ditadura criaram um império tão forte que até hoje são tidas como
impérios do mercado, da mídia e de terras. Odebrech, ITAU, ESSO, Light, Ultragaz, WolksWagen, ITAU, Bradesco,Famílias como a do
Eike Batista, a GLOBO e políticos como Sarney, Os Magalhães e tantos outros, são só alguns exemplos que tiveram ligações com a
ditadura e que até hoje tem ligações fortes com o Estado.
5. Dívida externa
Muito se fala do milagre
brasileiro e do crescimento do Brasil na época da ditadura, mas é oculto que
este crescimento foi financiado por capital estrangeiro que nos endividou e que
nos faz pagar até hoje pelo menos 40% do PIB anual, uma conta que se quer foi
auditada (investigada), como determinado na Constituinte de 1988.
6. Sistema e sociedade.
Apesar da ditadura ter seu fim em
1985 seu projeto de sociedade foi vitorioso, durante a ditadura foi crescente a
necessidade da moeda e seus derivados pela população, financiamentos, hipoteca,
empréstimos bancários etc. Houve também uma grande urbanização e concentração
de renda, a sociedade teve uma modificação expressiva e até hoje continua
mudando para um sistema cada vez mais acorrentado ao capitalismo.
- Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais
Após está análise vemos o tão
longo é o processo de redemocratização e do socialismo que buscamos. Longe do
que vimos nos últimos 25 anos de democracia e nos regimes anteriores, buscamos
uma sociedade de fato igual para todos e que pessoas não morram miseráveis à
sua insignificância, aos olhos dos Grandes empresários.
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Fórum 9 de Novembro - atividade 50 anos do golpe: amanhã vai ser outro dia? |
sabemos da importância desta luta. Observado isto o PSOL/VR conjunto a outros e outras lutadoras damos apoio e participamos do Fórum 9 de Novembro, que tem na sua fundação o objetivo de resgatar a memória e disputar a história dos anos de chumbo até os atuais. Para não repetirmos os erros de ontem, mas sem medo de mudar o presente para melhor.
Homenagem a todas e todos explorados que morreram na ditadura Civil-militar e aos que morrem e são explorados na atualidade, bem como seus familiares.
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