quinta-feira, 30 de janeiro de 2014



- Por Hafid Omar

- A Capoeira, a macumba, o Rap e o funk são o “rolezinho”

O rolézinho é um fenômeno que já acontece a muito tempo no Brasil, e, neste caso, é apenas o encontro de, nas palavras de um dos organizadores, “jovens querendo sorrir”, amigos e amigas virtuais, para se conhecerem em locais populares e de livre circulação. No entanto, devido à truculência da polícia, da segregação dos empresários e da típica política “pro empresário” de governos, como no caso, do PSDB, gerou-se um grande fato, que a mídia golpista não deixou de sensacionalizar e culpar os jovens da periferia que, em sua grande maioria, apenas queriam “Zoar, dar uns beijos na boca, rolar umas paqueras, pegar geral e se divertir.” Como o próprio evento falava no FaceBook. Só que zoar consumindo pode, mas com a periferia é diferente. Isto fica claro com a fala, no programa TVterra, de um dos representantes dos shoppings de São Paulo, Sayhoun, que para  Douglas Belchior, em outras palavras quis dizer: “Não queremos conflito. Nós os respeitamos. Até gostamos de vocês! Mas vocês ficam lá, com seu samba, com seu rap, com seu funk, longe de nós, nas favelas ou no sambódromo. Deixe-nos aqui, com nosso privilégio natural, em nossos palácios de tranquilidade. Quando precisarmos, chamamos vocês para limpar!”. Engraçado é o pessoal da USP poder fazer os "rolezinhos" sem maiores problemas e ainda ser patrocinado pelos lojistas. Mesmo gritando cânticos como ei GV vai tomar no C*, subindo em mesas e batendo nelas.
TROTE DOS ALUNOS DA USP

Em outras palavras, zoar pode, desde que consuma a bebida do bar X, dar beijos pode, mas o baton tem que ser da boutique Y, rolar umas paqueras? só se for brancO com brancA e preto lá fora, pegar geral menos aquelas “suburbanas” ali, diversão? Só privatizada, afinal shopping faz inclusão de crédito e não social. Como já dizia Florestan Ferndandes “a burguesia deste país prima pelo seu caráter antinacional, antissocial e antidemocrático”.
Se os rolezinhos não são legítimos ou organizados, ao menos se pintou o muro invisível, em torno dos shoppings, de OURO, mas não um ouro qualquer, nem amarelo, nem pardo, nem preto e sim um OURO BRANCO. Mérito se deve a este fenômeno e, também, ao Florestan Fernandes que ainda se mostra tão atual em muitas de suas observações. Porém, apesar da atualidade deste fato, ele se mostra também antigo, pois a repressão cultural do Pobre e do Negro vem na repressão da capoeira, da macumba, do rap, do funk até chegar a estes rolezinhos. Tornando uma cultura tão rica em essência, tão precária de acessos. São tantas concessões/privatizações de espaços públicos, isenções fiscais, financiamento público e outros meios de invasão do privado no público que passamos a confundir o público com o privado. Aliás, invasão está que não é denunciada pela nossa grande mídia parcial aos grandes empresários.
Enquanto, em todo o Brasil e também em Volta Redonda, cresce cada vez mais shoppings, e as praças se tornam cada vez mais vazias e sucateadas, sendo o local de algumas manifestações culturais, umas por iniciativa popular como a feira da gratidão, em nossa cidade, e outras, raras, por iniciativa pública que prefere os grandes shows a dar oportunidade aos artistas da região. Em suma, tem-se livre iniciativa privada em claro detrimento da livre iniciativa popular cultural. Afinal, a livre iniciativa privada consome muito mais que a cultura popular, além de por um cabresto que a cultura poderia romper. Não é a toa que Canclini diz: “Somos consumidores do século XXI, mas cidadãos do século XVIII” e diminuindo, pois a cada vez temos mais créditos e menos direitos sociais, nos tornando aquilo que consumimos e não nós mesmos.
Após toda essa reflexão ainda nos falta analisar o papel vergonhoso, para não usar de palavras mais agressivas à leitura, da instituição policial e da justiça que novamente reforçou para o que veio: PROTEÇÃO À PROPRIEDADE PRIVADA e LIVRE INICIATIVA PRIVADA, claro, ao empresário, porque você não tem direito a isso. Ele sim tem direito como a livre iniciativa privada, mas nós se quer temos direito de ir e vir, ele tem proteção a propriedade privada, mas dane-se a dignidade da pessoa humana que não pode entrar em um local pela sua situação social.
Primeiro vem a policia já que questão social agora é questão de polícia, e após as repressões violentas vem a justiça e todo o seu aparato coercitivo liminares, multas, obrigações de fazer, de não fazer de se F****. Protegendo todos os seus interesses civilizatórios tendo como alvo, sempre definido o negro e o empobrecido. Legalizando mais e mais o que deveria ser, na teoria, uma anomalia e um estado democrático de direito, uma situação de apartheid social. Onde rico anda onde o pobre não pode andar.
Parece piada, mas a justiça deu liminares que vão de multas de R$10.000,00 para quem participar destes eventos (adolescentes e jovens adultos) à “livre iniciativa privada de discriminar à torto e, literalmente, à direita.” Como foi dito pela reportagem do Brasil de Fato:

“Os shoppings obtiveram do poder judiciário liminares que proibiam a reunião desses jovens em seu interior e autorização para que empresas de segurança privada fizessem uma “triagem” de quem poderia ou não entrar no estabelecimento comercial. Os critérios usados para a “triagem” restringiam-se às indumentárias e aos traços físicos das pessoas. Não é difícil identificar jovens da periferia, pretos, mestiços e pobres. (também abre precedentes para mais atos “legais” discriminatórios)
Gilson é funcionário em um restaurante no Shopping JK Iguatemi, na Vila Olímpia.
“Eu sofri ato de racismo aqui dentro. Eu sofri abuso, sofri dano nos direitos morais aqui porque queira ou não ele me expôs na frente da burguesia inteira por completo”, desabafa.
Ao ser barrado pelo segurança no próprio local de trabalho, Gilson teria sido caracterizado como participante de um dos grupos de jovens que organizam os chamados “rolezinhos”

Desta forma, este fenômeno chamado rolezinho, se a princípio era despolitizado, agora tem um acumulo de pautas para serem manifestadas, seja pela cultura livre e popular, contra o consumismo, denunciando o preconceito e segregação, contra privatizações de espaços públicos, denunciando o caráter político da polícia e justiça no Brasil e a explanação da crise urbana que vivemos. Mas com uma participação mais expressiva da periferia o que é uma grande vitória para toda a sociedade e explica o terror feito em torno deste fenômeno, pois bem como Wilson da Neves canta em seu samba “O dia em que o morro descer e não for carnaval”.



“Não tem órgão oficial, nem governo, nem Liga; nem autoridade que compre essa briga; ninguém sabe a força desse pessoal; melhor é o Poder devolver à esse povo a alegria; senão todo mundo vai sambar no dia; em que o morro descer e não for carnaval.”


Vemos nos rolezinhos um fato importante de ser abordado, pois deixa claro a distinção de tratamento e o preconceito racista/social que se agrava nestes locais tipicamente segregatórios. É uma incoerência sem tamanho não propor um manifesto contra isso. O PSOL/VR apoia!

Um comentário:

  1. Ótimo texto! Realmente deixou de ser um ato despolitizado e passou a ser alvo de pautas que a muito os movimentos sociais, estudantis, organizados veem abordando.

    O vexame de um país que não rompeu com as raízes do preconceito. Que torna tudo privado menos o direito de sermos quem quisermos, como quisermos e onde quisermos. Que vai rotulando tudo e todos, ignorando sua própria constituição.

    Me envergonho de ter que assistir a mídia manipuladora. E fico triste quando encontro pessoas preocupadas de irem ao shopingg com os seguintes discursos: " nossa vou ali correndo, vai que esses bandidinhos safados aparecem por ai"
    Cara#@% sério mesmo que a mídia consegue tudo? É... ela consegue, e muitos alienados permitem-se ser cerceados, caindo na ignorancia mortal!

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