- Por Hafid Omar
O rolézinho é
um fenômeno que já acontece a muito tempo no Brasil, e, neste caso, é apenas o
encontro de, nas palavras de um dos organizadores, “jovens querendo sorrir”,
amigos e amigas virtuais, para se conhecerem em locais populares e de livre circulação.
No entanto, devido à truculência da polícia, da segregação dos empresários e da
típica política “pro empresário” de governos, como no caso, do PSDB, gerou-se
um grande fato, que a mídia golpista não deixou de sensacionalizar e culpar os
jovens da periferia que, em sua grande maioria, apenas queriam “Zoar, dar uns
beijos na boca, rolar umas paqueras, pegar geral e se divertir.” Como o próprio
evento falava no FaceBook. Só que zoar consumindo pode, mas com a periferia é
diferente. Isto fica claro com a fala, no programa TVterra, de um dos representantes dos shoppings de
São Paulo, Sayhoun, que para Douglas Belchior, em outras palavras quis dizer: “Não queremos conflito. Nós os respeitamos. Até gostamos de
vocês! Mas vocês ficam lá, com seu samba, com seu rap, com seu funk, longe de
nós, nas favelas ou no sambódromo. Deixe-nos aqui, com nosso privilégio
natural, em nossos palácios de tranquilidade. Quando precisarmos, chamamos
vocês para limpar!”. Engraçado é o pessoal da USP poder fazer os "rolezinhos" sem maiores problemas e ainda ser patrocinado pelos lojistas. Mesmo gritando cânticos como ei GV vai tomar no C*, subindo em mesas e batendo nelas.
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TROTE DOS ALUNOS DA USP |
Em outras palavras, zoar pode, desde que consuma a bebida do bar X, dar beijos pode, mas o baton tem que ser da boutique Y, rolar umas paqueras? só se for brancO com brancA e preto lá fora, pegar geral menos aquelas “suburbanas” ali, diversão? Só privatizada, afinal shopping faz inclusão de crédito e não social. Como já dizia Florestan Ferndandes “a burguesia deste país prima pelo seu caráter antinacional, antissocial e antidemocrático”.
Se os
rolezinhos não são legítimos ou organizados, ao menos se pintou o muro
invisível, em torno dos shoppings, de OURO, mas não um ouro qualquer, nem
amarelo, nem pardo, nem preto e sim um OURO BRANCO. Mérito se deve a este
fenômeno e, também, ao Florestan Fernandes que ainda se mostra tão atual em muitas
de suas observações. Porém, apesar da atualidade deste fato, ele se mostra
também antigo, pois a repressão cultural do Pobre e do Negro vem na repressão
da capoeira, da macumba, do rap, do funk até chegar a estes rolezinhos. Tornando
uma cultura tão rica em essência, tão precária de acessos. São tantas
concessões/privatizações de espaços públicos, isenções fiscais, financiamento
público e outros meios de invasão do privado no público que passamos a
confundir o público com o privado. Aliás, invasão está que não é denunciada
pela nossa grande mídia parcial aos grandes empresários.
Enquanto, em
todo o Brasil e também em Volta Redonda, cresce cada vez mais shoppings, e as
praças se tornam cada vez mais vazias e sucateadas, sendo o local de algumas
manifestações culturais, umas por iniciativa popular como a feira da gratidão,
em nossa cidade, e outras, raras, por iniciativa pública que prefere os grandes
shows a dar oportunidade aos artistas da região. Em suma, tem-se livre
iniciativa privada em claro detrimento da livre iniciativa popular cultural.
Afinal, a livre iniciativa privada consome muito mais que a cultura popular,
além de por um cabresto que a cultura poderia romper. Não é a toa que Canclini
diz: “Somos consumidores do século XXI, mas cidadãos do século XVIII” e
diminuindo, pois a cada vez temos mais créditos e menos direitos sociais, nos
tornando aquilo que consumimos e não nós mesmos.
Após toda essa
reflexão ainda nos falta analisar o papel vergonhoso, para não usar de palavras
mais agressivas à leitura, da instituição policial e da justiça que novamente
reforçou para o que veio: PROTEÇÃO À PROPRIEDADE PRIVADA e LIVRE INICIATIVA
PRIVADA, claro, ao empresário, porque você não tem direito a isso. Ele sim tem
direito como a livre iniciativa privada, mas nós se quer temos direito de ir e
vir, ele tem proteção a propriedade privada, mas dane-se a dignidade da pessoa
humana que não pode entrar em um local pela sua situação social.
Primeiro vem a
policia já que questão social agora é questão de polícia, e após as repressões
violentas vem a justiça e todo o seu aparato coercitivo liminares, multas, obrigações
de fazer, de não fazer de se F****. Protegendo todos os seus interesses
civilizatórios tendo como alvo, sempre definido o negro e o empobrecido.
Legalizando mais e mais o que deveria ser, na teoria, uma anomalia e um estado
democrático de direito, uma situação de apartheid social. Onde rico anda onde o
pobre não pode andar.
Parece piada,
mas a justiça deu liminares que vão de multas de R$10.000,00 para quem
participar destes eventos (adolescentes e jovens adultos) à “livre iniciativa
privada de discriminar à torto e, literalmente, à direita.” Como foi dito pela
reportagem do Brasil de Fato:
“Os shoppings obtiveram do poder judiciário liminares que proibiam a
reunião desses jovens em seu interior e autorização para que empresas de
segurança privada fizessem uma “triagem” de quem poderia ou não entrar no
estabelecimento comercial. Os critérios usados para a “triagem” restringiam-se
às indumentárias e aos traços físicos das pessoas. Não é difícil identificar
jovens da periferia, pretos, mestiços e pobres. (também abre precedentes para
mais atos “legais” discriminatórios)
Gilson é
funcionário em um restaurante no Shopping JK Iguatemi, na Vila Olímpia.
“Eu sofri ato
de racismo aqui dentro. Eu sofri abuso, sofri dano nos direitos morais aqui
porque queira ou não ele me expôs na frente da burguesia inteira por completo”,
desabafa.
Ao ser
barrado pelo segurança no próprio local de trabalho, Gilson teria sido
caracterizado como participante de um dos grupos de jovens que organizam os
chamados “rolezinhos”
Desta forma,
este fenômeno chamado rolezinho, se a princípio era despolitizado, agora tem um acumulo de pautas para serem manifestadas, seja pela cultura livre e
popular, contra o consumismo, denunciando o preconceito e segregação, contra
privatizações de espaços públicos, denunciando o caráter político da polícia e
justiça no Brasil e a explanação da crise urbana que vivemos. Mas com uma
participação mais expressiva da periferia o que é uma grande vitória para toda
a sociedade e explica o terror feito em torno deste fenômeno, pois bem como
Wilson da Neves canta em seu samba “O dia em que o morro descer e não for
carnaval”.
“Não tem órgão oficial, nem governo, nem Liga; nem autoridade que
compre essa briga; ninguém sabe a força desse pessoal; melhor é o Poder devolver
à esse povo a alegria; senão todo mundo vai sambar no dia; em que o morro
descer e não for carnaval.”
Ótimo texto! Realmente deixou de ser um ato despolitizado e passou a ser alvo de pautas que a muito os movimentos sociais, estudantis, organizados veem abordando.
ResponderExcluirO vexame de um país que não rompeu com as raízes do preconceito. Que torna tudo privado menos o direito de sermos quem quisermos, como quisermos e onde quisermos. Que vai rotulando tudo e todos, ignorando sua própria constituição.
Me envergonho de ter que assistir a mídia manipuladora. E fico triste quando encontro pessoas preocupadas de irem ao shopingg com os seguintes discursos: " nossa vou ali correndo, vai que esses bandidinhos safados aparecem por ai"
Cara#@% sério mesmo que a mídia consegue tudo? É... ela consegue, e muitos alienados permitem-se ser cerceados, caindo na ignorancia mortal!