segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

E UZOMI?: Nota sobre a Participação do Homem no Movimento Feminista

Desde que o patriarcado surgiu o homem tem mais voz na sociedade, é só olhar a história, eles sempre tiveram mais credibilidade, sempre tiveram mais espaços, sempre tiveram mais direitos. Quer uma forma rápida de ter certeza que isso ainda existe? Dá uma olhada em jornais, na forma que os homens agressores, estupradores e afins são apresentados e como as mulheres são. Quando o agressor é posto como "senhor de idade" e a mulher como "bêbada" acho que fica bem claro quem ainda tem mais respeito e voz na sociedade. Outra forma simples de ver isso é quando um homem fala de forma calorosa sobre um assunto: ele é visto como apaixonado, seguro de si - enquanto a mulher é colocada como "histérica", "dramática" ou "radical", e isso se agrava quando o assunto é o local da mulher na sociedade. A sociedade produz e reproduz esta lógica do machismo, aonde um homem pode julgar, subordinar e mesmo agredir uma mulher e sair impune, aonde o homem acha que está acima da mulher simplesmente por ela ser uma mulher, e uma mulher deve se manter calada.
 
Então por esses motivos, o protagonismo do feminismo deve ser feito pelas mulheres*. Quando digo protagonismo feito por mulheres quero dizer as pautas, a forma como se darão as manifestações, os congressos, debates e toda a parte de organização. Nós precisamos de espaços só nossos, para podermos falar abertamente, sem medo de julgamento, sem medo de que homens julguem nossas reações ou ditando como devemos fazer as coisas. 
 
Vocês realmente acham que as mulheres ficarão confortáveis em contar das violências sofridas a homens que elas nem conhecem? Ou até mesmo falar de coisas normais como sexo e masturbação a desconhecidos? Ou seria mais fácil a essas mulheres receberem apoio e empoderamento de outras mulheres, de forma leve onde todas ali têm experiências parecidas?
 
Além disso, o que torna a presença do homem mais difícil, são os muitos homens que se dizem pró-feministas acharem que estão livres do machismo enraizado e sistemático só pelo fato de apoiarem o movimento. Não aceitando quando mulheres apontam erros, achando que a base teórica é mais importante que a vivência diária da mulher que é quem sofre com a misoginia e principalmente ignorando que são socialmente privilegiados**. Isso é um tipo de machismo grave, que vem fantasiado de empatia e apoio quando na verdade é silenciador.
 
Mas isso não quer dizer que não queremos homens dialogando com os movimentos feministas, ou que eles não possam participar. 
 
O que queremos é que homens entendam que eles têm seu espaço delimitado dentro desse movimento, que aqui não é a voz dele e sim a voz da mulher, porque é nossa vez de ter voz em algo, porque em um movimento pela libertação, equidade e empoderamento da mulher nada mais justo que a voz da mulher seja a forte. Um homem que invade o feminismo querendo dar ordens ou dizer como a militância deve ser feita está silenciando mulheres, e a sociedade já faz esse papel muito bem. Ele está basicamente falando que mulheres não sabem como militar pela opressão que elas sofrem e então precisam do direcionamento do homem.
 
Homens que querem contribuir com o feminismo podem fazer isso desconstruindo o machismo no meio que vivem, podem ir a espaços mistos onde a presença deles é aceita, podem começar a prestar atenção e problematizar as próprias atitudes.
 
Seria mais proveitoso que um homem desconstruísse o machismo do amigo que fala "lugar de mulher é na cozinha", "existe mulher pra comer e pra casar" ou dentro do movimento falando as mulheres como elas devem militar? Um homem pode falar sobre machismo, pode mesmo teorizar, e deve ajudar na luta e na desconstrução e desnaturalização do machismo e da delimitação de “coisas que são para mulheres e coisas que são para homens”. Mas um homem, que não sofreu abuso, que não sente medo de sair na rua sozinho, que não tem voz pra dizer “não”, que não se reprime em dizer “sim” por convenções sociais, que não é julgado sempre de forma negativa, não importando o que faça, não pode nos falar, para nós, mulheres, como se dá a opressão, e como nós devemos lutar contra isso.
 
Quando os primeiros grupos feministas optaram por tirar o homem de alguns espaços, ao invés desses homens brigarem com essas mulheres eles criam o "Aliança Internacional de Homens para o Sufrágio das Mulheres" e dessa forma continuaram a apoiar o movimento, sem tomar a voz da mulher, e isso foi no inicio do século XX.
 
A presença do homem sempre será aceita se vier em forma de apoio e não silenciamento. A presença dos homens é necessária, mesmo para eles próprios desconstruírem o que pra eles é natural, para mostrar para outros homens que essa luta é de todos, mas lutando ao nosso lado, nunca acima de nós.




 
*Mulheres trans e cis. Homens trans também são aceitos por sofrerem com misoginia.
 
**Privilegiados em relação a questão de gênero.





por Larissa Raven e Ananda da Silveira

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

RESUMO SEMANAL

VOLTA REDONDA 

Até quarta-feira Processo do Neto e Zoinho será julgado
O caso começou a ser julgado no Tribunal Superior Eleitoral em 11 de dezembro, poucos dias antes do recesso forense da Corte. Na sessão, apenas a ministra relatora dos dois casos, Maria Thereza de Assis Moura proferiu seu voto – pela cassação do mandato do prefeito Neto e pela absolvição de Zoinho. Após o voto da relatora, o ministro João Otávio de Noronha pediu vistas dos processos. Faltam, agora, no mínimo cinco ministros votarem – porque o presidente do TSE, Dias Toffoli, só vota nos processos em caso de empate.Para compartilhar esse conteúdo, por favor utilize o link. Leia mais aqui

Justiça determina ao Dnit manutenção da BR-393
A Justiça Federal acolheu pedido do Ministério Público Federal (MPF) em Volta Redonda e determinou ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) que conclua, no prazo máximo de 180 dias, a licitação das obras de restauração da rodovia BR-393 (Rodovia Lúcio Meira), entre os quilômetros 291 e 300. O trecho liga a Rodovia Presidente Dutra a Barra Mansa e Volta Redonda. A Justiça determinou ainda a realização de obras de manutenção rotineira e preventiva em até 60 dias. Leia mais aqui


ESTADUAL 

Supremo nega soltura a acusados de matar o cinegrafista durante protesto
O ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), negou pedido de habeas corpus de Fábio Raposo Barbosa e Caio Silva de Souza, acusados de matar o cinegrafista Santiago Andrade, em fevereiro de 2014, durante manifestação no Rio de Janeiro. Dessa forma, os dois continuam aguardando julgamento na prisão. Leia mais aqui

Participe da campanha de solidariedade aos trabalhadores do Comperj
A Central solicita às entidades uma intensa campanha de apoio a esses operários (modelo de texto e endereços para envio abaixo). Além disso, necessitamos de apoio financeiro, já que é um processo em que a categoria está se mobilizando sem o necessário apoio do seu sindicato. Leia mais aqui


NACIONAL
Eduardo Cunha sambando nos direitos LGBTs
Enquanto tamborins, pandeiros e agogôs se aquecem para o carnaval, o recém-eleito presidente da Câmara dos deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anda fazendo bastante barulho na Casa. A última do deputado foi solicitar (e conseguir) o desarquivamento de alguns projetos de sua autoria que visam combater as discriminações contra pessoas heterossexuais. Leia mais aqui

MST se solidariza com os professores e servidores públicos em greve no ParanáSegundo o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), 100% da categoria está paralisada, exigindo o pagamento de benefícios atrasados e a reabertura dos turnos fechados no fim de 2014. Leia mais aqui

Impeachment de Dilma é tapar o sol com a peneira!
A solução é continuar na rua e na luta contra os abusos do Governo Federal, lutar contra cada aumento, cada retirada de direito! Leia mais aqui


INTERNACIONAL

Anistia pede 'transparência' após enredo polêmico da Beija-Flor

O principal problema seria o financiamento, uma soma entre R$ 5 a R$ 10 milhões, que teriam sido doados pelo presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema. No poder há mais de 35 anos, ele é o líder há mais tempo à frente de um país africano e seu currículo, segundo a ONG Anistia Internacional, acumula uma extensa lista de acusações de violações de direitos humanos, desde execuções extrajudiciais, tortura, prisões arbitrárias e repressão violenta a protestos. Leia mais aqui

Na Palestina, Frente Popular combina luta de libertação nacional com luta pelo socialismo
Em visita ao Brasil, Khaled Barakat, representante da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) – uma organização marxista no interior do movimento de libertação nacional – afirma que “existem comunistas e socialistas nas lutas da Palestina e do mundo árabe". Leia mais aqui

Julgamento dos repressores da ditadura consolida democracia argentina

Dezenas de novos julgamentos se abrem a cada ano, chegando inclusive agora
médicos, parteiras e capelães comprometidos com a repressão. Leia mais aqui


VÍDEO
Na 30 Conferência Geral da Unesco, celebrada na sua sede de Paris o 17 de novembro de 1999, acordou-se por unanimidade declarar o dia 21 de fevereiro de cada ano como o dia para lembrar e reivindicar a importância da língua materna. A proposta principal e formal foi feita pela delegação do Bangladesh, junto com outras instituições e ONG. Por isso, desde o ano 2000, vem-se celebrando em muitos lugares esta comemoração. Leia mais aqui

AGENDA

21/02 - I Encontro para construção do 08 de março, 16h, embaixo da biblioteca (só para mulheres)
23/02 - Reunião do Fórum 9 de Novembro, 18h no SEPE.
24/02 - Reunião do Setorial de Meio Ambiente, 17h na sede.

24/02 - Reunião do Diretório, 18:30h na sede.
25/02 - Reunião do Setorial de Direitos Humanos, 19h na sede.
26/02 - Debate sobre Reforma Política com Tarcísio Motta em Valença às 19:30h na sede da OAB (Rua Silva Jardim, 215, centro)
27/02 - Prestação de contas da saúde na Câmara
28/02 - Circuito de Lutas do mandato coletivo Flávio Serafini
28/02 - II Encontro para construção do 08 de março, 16h, embaixo da biblioteca (só para mulheres)
28/02 - Ocupa Jah!, ocupação da rádio siderúrgica, às 14h.
03/03 - Reunião da Comissão Ambiental Sul
07/03 - III Encontro para construção do 08 de março, 16h, embaixo da biblioteca (só para mulheres)
08/03 - Dia Internacional da Mulher
10/03 - Reunião do Setorial de Educação, 19h na sede
16/03 - Seminário sobre o Ciclo de Mineração no assentamento Dorothy (Quatis)
27 a 30/03 - V Seminário da Frente Nacional contra a Privatização da Saúde. Inscrições aqui

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Cid Gomes no MEC: uma escolha coerente para aprofundar a contrarreforma da educação brasileira


Escrito por Roberto Leher, El País - QUI, 08 de Jan de 2015

Os governos Lula da Silva e Dilma Rousseff romperam com o projeto de educação do PT dos anos 1980 e 1990, elaborado no contexto das lutas do Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, em especial na Constituinte e na LDB, nas quais sobressaiu a liderança de Florestan Fernandes, e no período de elaboração do Plano Nacional de Educação dos Congressos Nacionais de Educação (1996-1997): por isso, jamais admitiram considerar o Plano Nacional de Educação: Proposta da Sociedade Brasileira elaborado pelos trabalhadores da educação, entidades acadêmicas, estudantes, reunidos no referido Fórum.
A opção destes governos, por suas alianças de classes, foi subordinar a educação pública aos anseios do capital, por meio de parcerias público-privadas, operacionalizadas pela expansão do FIES e pela criação de um programa de isenções fiscais para o setor mercantil (ProUni), possibilitando o crescente controle da educação privada pelo setor financeiro, pela incorporação da totalidade da agenda educacional dos setores dominantes (Todos pela Educação) nas diretrizes oficiais para educação básica (Plano de Desenvolvimento da Educação, 2007; Plano Nacional de Educação, 2014) e pela admissão de que cabe aos patrões conceber a educação profissional da classe trabalhadora (Pronatec).
O PT, após 2003, parece ter assimilado a nova agenda sem maiores questionamentos: os seus ministros a implementaram de modo diligente. Não haverá descontinuidade na política com o afastamento do PT do comando do MEC, mas haverá mudanças. O novo ministro aponta um aprofundamento da contrarreforma e, pelo retrospecto de seus mandatos como governador, um recrudescimento do confronto do governo com os trabalhadores da educação básica e superior.
Cid Gomes e as universidades estaduais: uma relação de confronto
A trajetória do novo ministro é afim ao projeto em curso de expandir a oferta privada, com recursos estatais, e de refuncionalizar as universidades como organizações de serviços e ensino. A sua relação com as universidades estaduais do Ceará foi hostil e rude, manifestando disposição de federalizá-las (1) e mesmo de fechar o prestigioso curso de medicina da UECE, provavelmente por ser muito custoso (2). Mesmo diante da enorme falta de docentes, mais de 800 nas três universidades estaduais, procrastinou a realização de novos concursos (optando por deletérios contratos temporários e terceirizações) até o final de seu segundo mandato.
Uma breve cronologia das lutas permite magnificar a intransigência e a ausência de prioridade à educação no governo de Cid Gomes: os sindicatos protocolaram a pauta em fevereiro de 2011, realizaram diversos atos, mas o governador somente recebeu as entidades e os reitores em novembro de 2012. A intransigência se manteve. No lugar de concursos, Cid autorizou apenas a contratação de professores substitutos que recebem menos da metade dos efetivos. Em outubro de 2013, objetivando acelerar a resolução dos problemas, os docentes deflagraram uma greve que se prolongou até janeiro de 2014. Os docentes suspenderam a greve a partir do compromisso de que o governo negociaria com a categoria. Novamente, as principais reivindicações não foram negociadas e, em setembro de 2014, a greve foi retomada. A gestão Cid Gomes foi encerrada sem que o governador tivesse negociado com os docentes que, após 4 meses marcados pela ausência de diálogo, no início de janeiro de 2015 ainda se encontravam em greve para impedir o total sucateamento das estaduais.
Ao justificar a sua recusa em autorizar novos concursos, o governador argumentou que os docentes ministram poucas aulas, propondo que a carga-horária em sala de aula deveria corresponder a 52% da jornada de trabalho, aproximadamente 21 horas-aula, o que ele chamou de “chão de sala de aula”, sem considerar nem mesmo o tempo para planejamento das aulas, o que inviabiliza as orientações, a pesquisa e a extensão.
Embora tenha havido crescimento nominal dos recursos para as três estaduais, houve decréscimo em termos da participação do orçamento das universidades em relação ao orçamento total: em 2007, os gastos das estaduais correspondiam a apenas 1,54% do orçamento; em 2012, o percentual foi reduzido para minguados 1,46%.  Desse modo, os gastos ficaram muito aquém da expansão de vagas e foram destinados, especialmente, aos contratos temporários (os gastos nesta rubrica cresceram, entre 2007 e 2012, 169,63%) e para as terceirizações do pessoal (2007-2012: +1.643%) (3).
A consequência prática dessas medidas foi o favorecimento do setor empresarial, que seguiu expandindo vorazmente no estado. Com efeito, no Ceará, as matrículas entre 2000-2010 cresceram 114%, sendo que o setor privado  teve expansão de 245% e o público de 45%. No Ceará, o setor mercantil foi turbinado pelo FIES e o PROUNI, que, entre 2010 e 2013, ampliou em 358% os beneficiários dos subsídios públicos para o setor mercantil. A grande expansão se deu no FIES que, no período, cresceu 559%, enquanto o PROUNI cresceu 80% (4), ampliando de modo impressionante os estudantes endividados. A expansão do setor mercantil conheceu um período de ouro nas gestões Lúcio Alcântara, PSDB (2003-2007) e Cid Gomes (2007-2014).
Educação básica
A despeito de que o governador não tenha sido um membro orgânico da criação do lobby empresarial, a exemplo de Fernando Haddad e de José Henrique Paim, foi em sua gestão na prefeitura de Sobral e, depois, no governo do Ceará, que uma das mais importantes medidas da agenda empresarial foi testada: o Programa Alfabetização na Idade Certa, posteriormente incorporada pelo MEC como política nacional no Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa - PNAIC. Com efeito, o governador assinou em 24 de maio de 2007 adesão ao programa Compromisso Todos pela Educação e, desde então, aplicou diligentemente a agenda empresarial, sendo reconhecido pelos donos do dinheiro e do poder como um importante protagonista da reforma empresarial da educação na região Nordeste, no caso, do ensino fundamental.
Desse modo, os setores dominantes lograram difundir uma nova concepção de alfabetização funcional ao trabalho simples, restrita ao velho paradigma das primeiras letras referenciado na decodificação de letras, sílabas e palavras, desvinculadas da semântica, do uso social da escrita e da leitura, situação que explica, em grande parte, a existência de milhões de crianças e jovens que, a despeito de serem considerados alfabetizados, não são capazes de utilizar criativamente a escrita como uma dimensão da comunicação e do diálogo.
O capital, nesse momento, almeja estender essa concepção instrumental e minimalista para todo ensino médio. Após ter hegemonizado a concepção de ensino fundamental, o Todos pela Educação vem orientando seus publicistas para difundir a necessidade da reforma do ensino médio, tido como muito abrangente e pouco focado nas “competências” instrumentais de português e matemática. Para isso, os seus funcionários vêm defendendo a necessidade de reformar o currículo do ensino médio. Argumentam que, no Brasil, ciência, cultura, arte, conhecimentos histórico-sociais são um luxo anacrônico. Não surpreende que, em sua primeira declaração como ministro da Educação, Cid Gomes tenha explicitado que essa reforma do ensino médio será a sua prioridade, meta reafirmada por Dilma Rousseff em seu discurso de posse.
A sua nomeação, na cota pessoal de Dilma, anuncia também o recrudescimento das ações contra os docentes que, em especial, desde 2011, vêm promovendo cada vez mais lutas em prol de uma carreira digna. Ao lado dos governadores de RS, MS, SC e PR, em 2008 patrocinou uma ação no STF contra a lei do piso salarial (Lei 11.738/08). O magro piso foi conquistado no estado após uma dura greve de 64 dias, em 2011, a exemplo da conquista do (reduzido, apenas 1/3 da jornada) tempo de preparação de aulas, uma vitória dos trabalhadores da educação pois, na ocasião, o governador sustentou, ao patrocinar a ADIN contra a lei do piso, que o docente deveria permanecer 40 h em aula (5). Diante desta áspera greve, Cid Gomes afirmou: “Quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário. Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado” (6). Na ocasião, um docente graduado, em regime de 40 h, recebia um vencimento de R$ 1,3 mil.
O retrospecto de seu governo indica que a educação será a “prioridade das prioridades” de forma sui generis: o governo tucano de Lucio Alcântara (cabe grifar, tucano!) destinou para a função educação 28,25% do total do orçamento. Cid Gomes, em 2012, destinou apenas 18,06% (Anexo II, RREO, LRF), queda que pode ser magnificada também pelo percentual do PIB do Ceará destinado à educação : em 2007, 3,93%, em 2012, 2,6% (IPCE, Anexo II, RREO e balanço geral).
As suas prioridades foram outras. Nem todas as atividades públicas deveriam ser caritativas, praticadas “em nome do amor”. Em 2007, fretou um jatinho por R$ 340 mil e levou a família para passear na Europa, hospedando-a nos mais caros hotéis, uma conta de R$ 35 mil (7). Em 2010 foi denunciado pela “farra do caviar”. Trata-se de um contrato de um buffet por R$ 3,4 milhões para servir a residência e o palácio de governo com caviar, escargots etc. (8).
Sentidos da política educacional em curso
O fato de o novo ministro não ter sequer mencionado a universidade em sua primeira entrevista – a despeito do peso relativo das universidades federais para o MEC –  é uma demonstração de organicidade e coerência com as atuais políticas educacionais e com o aprofundamento da agenda do Todos pela Educação. Afinal, um ensino médio instrumental, focalizado nas ditas competências mínimas, expressa um projeto educacional em que o conceito de universidade pública é uma ideia fora do lugar. As políticas atuais, dirigidas pelo empresariado, têm como pressuposto que o setor produtivo, ou melhor, o mercado, não demanda força de trabalho complexa e, por isso, o nexo lógico é o PRONATEC e seus cursos de curta duração, instrumentais, destinados a suprir a força de trabalho simples e a socializar, ideologicamente, o exército industrial de reserva. A nomeação de Kátia Abreu da CNA para a pasta da agricultura e de Armando Monteiro da CNI para o ministério do Desenvolvimento robustecem a presença do Sistema S na educação profissional brasileira, respectivamente por meio do PRONACAMPO e do referido PRONATEC.
Desse modo, o desprestígio das universidades federais, expresso por sua invisibilidade na campanha eleitoral –  Dilma Rousseff nada disse sobre a importância das mesmas nos debates e entrevistas, a exemplo de Aécio Neves –, é congruente com a política econômica em prol do setor bancário, das finanças, do extrativismo e das commodities em geral.  Cabe destacar a pertinência dessas orientações com as políticas de Ciência e Tecnologia em curso. Não é casual que o novo ministro da Ciência e Tecnologia, Aldo Rabelo, tenha sido um dos líderes da aprovação do novo código florestal brasileiro, confrontando as entidades científicas e os movimentos sociais. As suas críticas aos relatórios do órgão da ONU Painel Intergovernamental para a Mudança Climática - IPCC, na sigla em inglês –, ecoando a tese de que o aquecimento global é uma “controvérsia”, nos mesmos termos dos cientistas financiados pelas corporações petrolíferas e da indústria automobilística, igualmente merecem destaque, pois congruentes com a política extrativista e de fortalecimento da economia baseada em commodities.
Todos esses setores (financeiros, commodities, serviços) não demandam universidades capazes de produzir conhecimento novo. Após um curto período de relativa expansão de recursos (2007-2012), muitas universidades federais voltaram ao cotidiano dos anos 1990: contas de energia e telefonia atrasadas, terceirizações toscas, que sequer são custeadas até o final do ano, interrompendo serviços importantes, e visível decadência das instalações físicas, que já não pode ser edulcorada por argumentos de que, no futuro, tudo estará bem.
Se a pesquisa acadêmica, direcionada para os problemas lógicos e epistemológicos do conhecimento, não tem lugar na agenda, nem tampouco a ciência e tecnologia comprometidas com os problemas atuais e futuros dos povos, o mesmo não é verdade em relação à prestação de serviços. É cristalina a orientação da presidenta Dilma. Em seu discurso de posse, a missão da universidade é uma só: servir o setor produtivo a partir de parcerias. Fomentando o mercado educacional nos países centrais, manterá a custosa prioridade ao programa Ciência sem Fronteiras, ainda que a quase totalidade dos estudantes tenha uma muito breve interação com essas universidades, em geral duas disciplinas e pouca ou nula inserção na pesquisa. Os recursos destinados para o Programa originalmente seriam custeados meio-a-meio com o setor empresarial, que, entretanto, não demonstrou interesse. Assim, os recursos que jorram para adquirir serviços educacionais dentro e fora do país são justamente os que faltam para melhor estruturar a universidade brasileira.
Em resumo, a presidenta mostrou coerência com o seu projeto e com a sua aliança de classes. Contrariando expectativas pueris, optou por um ministro que já demonstrou que o seu modus operandi para enfrentar os docentes é rude e sabe enxugar o orçamento educacional. O novo ministro muito dificilmente irá se contrapor ao projeto em curso que aprofunda a adaptação das universidades ao modelo da educação terciária minimalista, nos moldes de Bolonha e dos community colleges. O teor ideológico da educação foi magnificamente sintetizado pela presidenta: “Brasil, Pátria Educadora”. O dever de assegurar a educação é difuso, diluído no suposto patriotismo, a despeito das classes sociais, encaminhado pelos “valores da pátria”, um discurso que orgulharia o Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo e os formuladores da educação e moral e cívica dos anos de Chumbo.
Desafios para a defesa da educação pública
Diante do novo cenário, os encaminhamentos do I Encontro Nacional de Educação (2012) terão de ser ajustados. Será temerário adiar uma nova convocação nacional para 2016, quando a contrarreforma poderá ter avançado de modo profundo sobre a educação pública unitária. Em 2015, acontecerão diversos encontros que poderão servir de emolumento para que a frente em defesa da educação pública possa ser ampliada, como o II Encontro Nacional de Educadores da Reforma Agrária - ENERA. De fato, diversos setores sindicais e acadêmicos têm manifestado disposição de retomar o diálogo com prol de uma frente capaz de empreender unidade de ação na defesa dos princípios que orientam a escola pública gratuita, universal, unitária e laica, mas tal processo não se dará de modo espontâneo e, por isso, a convocatória de um novo encontro, ainda mais aberto ao protagonismo de base, não pode ser adiada.
Estamos em contexto de aviso de incêndio, para utilizar a metáfora benjaminiana, e, por isso, as movimentações em prol da educação pública terão de ser ousadas, rápidas e efetivas, sob o risco de derrotas longas e duradouras. O histórico recente de greves da educação básica e superior e de lutas da juventude atesta que a disposição de luta está pulsando forte e, em 2015, as ruas poderão estar ocupadas por todos os que lutam por uma educação pública unitária.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

RESUMO SEMANAL


VOLTA REDONDA 
Pezão não paga empresa e empresa não paga funcionárias/os
O SEPE em audiência com o secretario apresentou o problema e teve como resposta: “sobre o atraso de pagamento dos funcionários da cuidar, foi informado que o repasse será feito no final de fevereiro e que, no contrato, existem cláusulas que obrigam a empresa a garantir o pagamento, mesmo sem o repasse do governo”. Leia mais aqui

Convocação para a construção do Dia Internacional da Mulher [08 de Março]
Com o objetivo de resgatar e debater a luta da mulher em Volta Redonda, uma cidade historicamente operária, convidamos você a construir o 08 de março conosco - dia internacional da mulher. Em um movimento de esquerda e suprapartidário, durante este dia vamos ocupar simbolicamente um espaço da cidade que era responsável pelo cuidado à mulher, à maternidade, à gestação e à infância: o antigo Posto de Puericultura, na Vila Santa Cecília, que hoje está abandonado pela CSN. Leia mais aqui


ESTADUAL 
Trabalhadores do Comperj fazem protesto e fortalecem vigília no Edise
Os petroleiros nessa terça (10), junto com os trabalhadores do Comperj, realizaram a vigília no Edise. Um grupo de trabalhadores do Comperj que estão sem salário desde dezembro, fecharam a ponte Rio-Niteroi pela manhã e marcharam para o Edise. A Petrobrás é co-responsável por esses contratos e poderia através do Fundo Garantidor criado para esse fim no último ACT resolver o drama desses trabalhadores. Leia mais aqui

ALERJ: Deputado estadual Flávio Serafini propõe Plano de Urgência Hídrica como Projeto de Lei
O mandato coletivo Flavio Serafini apresentou um Projeto de Lei que regulamenta a prioridade do consumo humano e dessedentação animal em caso de escassez de recursos hídricos, além de outras iniciativas com intuito de encontrar soluções para este cenário e desmitificar essa questão. Leia mais aqui



NACIONAL
PSOL integrará a CPI da Petrobrás
Deputado Ivan Valente representará partido na Comissão. “Da nossa parte, não ouparemos esforços para que todo esse esquema de corrupção na Petrobras seja desmantelado e que a empresa sobreviva e venha a ter uma administração democrática, transparente e sob controle público”Leia mais aqui

PSOL defende saída para a crise pela esquerda
No documento, o partido avalia que “o governo Dilma e o PT se renderam totalmente aos interesses do mercado e suas imposições de austeridade”. “Nós vivemos uma espécie de estelionato eleitoral. Os milhões de votos dados à presidenta Dilma no segundo turno não foram para ela fazer ajuste fiscal e tarifaço”, afirma a ex-candidata do PSOL à presidência, Luciana Genro. Leia mais aqui

Dez anos após o assassinato da irmã Dorothy o sangue ainda corre na floresta
Neste 12 de fevereiro, o assassinato de Dorothy Stang completa dez anos, sem que os mandantes pelo crime tenham sido, de fato, presos. Leia mais aqui

INTERNACIONAL
Carta de Luciana Genro ao primeiro ministro da Grécia, Alexis Tsipras
O governo Dilma, mesmo eleito com um discurso diferente, vem anunciando a aplicação do mesmo tipo de modelo econômico que levou o povo grego a esta situação de crise humanitária. O caminho trilhado pelo PT, de ceder aos interesses do capital, o levou a ceder cada vez mais e a ficar cada vez mais parecido com o PASOK grego. Leia mais aqui

Documentário sobre privatização da água na Bolívia
O filme mostra como o serviço de fornecimento de água foi repassado às multinacionais estrangeiras e como o governo manobrou a exploração de recursos naturais para dominar a população. A polêmica Lei das Águas e as estratégias do governo de Hugo Banzer, à época Presidente da Bolívia, são mostradas e confrontadas com a difícil realidade vivida pelos camponeses, principais afetados pelas regras injustas impostas pela privatização das água. Leia mais aqui


AGENDA
13/02 - Ato da CUIDAR no cruzamento da Am. Peixoto com São João, às 11h.
14/02 - Inicio das inscrições para o Curso de Verão do PSOL Carioca. Inscrições aqui.
15/02 - Assembleia ordinária Ocupação 9 de Novembro
21/02 - I Encontro para construção do 08 de março, 16h, embaixo da biblioteca (só para mulheres)

23/02 - Reunião do Fórum 9 de Novembro, 18h no SEPE.
24/02 - Reunião do Diretório, 18:30h na sede.

25/02 - Reunião do Setorial de Direitos Humanos, 19h na sede.
28/02 - II Encontro para construção do 08 de março, 16h, embaixo da biblioteca (só para mulheres)
07/03 - III Encontro para construção do 08 de março, 16h, embaixo da biblioteca (só para mulheres)
08/03 - Dia Internacional da Mulher
27 a 30/03 - V Seminário da Frente Nacional contra a Privatização da Saúde. Inscrições aqui

Convocação para a construção do Dia Internacional da Mulher [08 de marrço]


PELO DIREITO À VIDA NÓS, MULHERES, OCUPAREMOS A CIDADE!
Com o objetivo de resgatar e debater a luta da mulher em Volta Redonda, uma cidade historicamente operária, convidamos você a construir o 08 de março conosco - dia internacional da mulher. Em um movimento de esquerda e suprapartidário, durante este dia vamos ocupar simbolicamente um espaço da cidade que era responsável pelo cuidado à mulher, à maternidade, à gestação e à infância: o antigo Posto de Puericultura, na Vila Santa Cecília, que hoje está abandonado pela CSN.
Ter direito à vida é ter direito ao próprio corpo, assistência social de qualidade, parto humanizado, etc. Queremos voltar sozinhas para casa com tranquilidade e usar a roupa que quisermos sem sermos julgadas como putas ou santas. Sabemos que o número de creches em Volta Redonda não atendem à demanda por só funcionar em meio turno e também entendemos que a licença paternidade deve ser ampliada, por exemplo.
Você, mulher, está convidada para construir este ato com a gente. Nos encontraremos aos sábados (21 e 28/02 e 7/03) sempre às 16h embaixo da "Biblioteca" Municipal. Traga suas ideias, vamos fazer oficinas e o que mais der na telha!

"Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem." 
Rosa Luxemburgo


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

PEZÃO NÃO PAGA À EMPRESA E A EMPRESA NÃO PAGA AOS FUNCIONÁRIAS\OS

 Fonte: Blog do SEPE VR
 

O CALVÁRIO DOS TRABALHADORXS DA EMPRESA CUIDAR NAS ESCOLAS ESTADUAIS DO MÉDIO PARAÍBA
Em greve desde o dia 15 de janeiro, por falta de pagamento de dezembro e agora de janeiro, as\os trabalhadorxs da empresa cuidar vêm fazendo uma verdadeira via crucis. Já estiveram na Regional Médio Paraíba com o coordenador prof. Marcos, que informou ser sua obrigação verificar se as escolas estão limpas; na Secretaria de Educação, com o responsável pela contratação da empresa, Sr Andre Melo, que informou que a obrigação de fazer o pagamento é da empresa; na Assembleia Legislativa, com o deputado Comte, que verificou junto ao secretário de educação prof. Antonio Neto o que estava acontecendo e este informou estar o repasse do governo para a empresa atrasado desde outubro, mas, que no contrato assinado a empresa assume efetuar o pagamento mesmo assim; com o dono da empresa, Sr Wellington, que confirmou estar sem repasse e que sendo assim não tem como pagar as\os funcionários. Além disso, as\os funcionárixs ao consultarem conta do FGTS e do INSS, verificam que os depósitos não estão atualizados.
O SEPE em audiência com o secretario apresentou o problema e teve como respostai: “sobre o atraso de pagamento dos funcionários da cuidar, foi informado que o repasse será feito no final de fevereiro e que, no contrato, existem cláusulas que obrigam a empresa a garantir o pagamento, mesmo sem o repasse do governo”.
O sindicato de Asseio e Conservação informou que seu depto jurídico entrou com uma medida na justiça solicitando o bloqueio do repasse das verbas para a empresa e que este seja usado para pagar as\os funcionárixs. O JUIZ NÃO CONCEDEU A LIMINAR E MARCOU A AUDIÊNCIA PARA O DIA 10 DE MARÇO
Enquanto isso, 900 funcionários, em sua maioria mulheres, arrimo de família, estão com suas contas vencidas, com luz e água atrasadas, cartão de crédito correndo juros, recorrendo a familiares para comprar alimentos, sem ter como comprar material escolar para seus filhos etc., etc.,
Afirmamos que isso é reflexo da política de terceirização, que precariza as relações de trabalho e beneficia aqueles que querem abocanhar dinheiro público com a conivência dos governos. É também da política de contingenciamento orçamentário. Não é átoa que pezão anuncia corte em 20% nos valores dos contratos de prestação de serviço.
Em meio a esse tiroteio xs atingidxs são os\as trabalhadorxs E o que resta é fortalecer a luta buscando a solidariedade da sociedade. É hora de pais, estudantes e professores apoiarem os trabalhadores da CUIDAR, afinal são eles que lhes propiciam um ambiente limpo para trabalharem.
Nada de usar alunos e pais para limparem a escola. Nada de pagar “por fora” as\os mesmoxs funcionarixs para fazer o serviço. Se alguém está fazendo isso é uma traição a quem está lutando por direitos!
Se querem ser solidários, vêm para a assembleia e fortaleça a luta. Se querem ajudar aos que estão passando necessidade, ajudem. mas não aumentando a exploração.
PARTICIPEM, SEJAM SOLIDÁRIOS!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Uma oportunidade trágica para conscientização e reflexão do modelo de desenvolvimento capitalista

Por Setorial de Meio Ambiente

O colapso hídrico tragicamente visível na realidade brasileira, sobretudo da região sudeste, remete às mais variadas discussões em torno do meio ambiente, a começar pelo Novo Código Florestal (Lei 12.651/12e a transposição do Rio Paraíba do Sul. São levantadas também questões como a suposta displicência no uso doméstico e questionado o racionamento urbano. Trata-se de uma lamentável conjuntura favorável para compreendermos o modelo de desenvolvimento ao qual estamos submetidos e também para localizarmos possibilidades para atuação de nosso papel enquanto instrumentos que devem atuar além do denuncismo do capitalismo por si só.

Novo código florestal ou o Código do agronegócio?
O Código Florestal foi um dos principais destaques na agenda legislativa em 2012, demonstrando não ser apenas um problema agrícola ou rural, e sim um problema nacional que traz consigo a discussão acerca do modelo econômico exportador brasileiro, a biodiversidade, a política agrária e a política agrícola. Os desdobramentos do referido debate expõem a floresta como a maior aliada da agricultura, pois o maior insumo da agricultura é a água. Entretanto, a nova lei diminuiu a proteção às nascentes de rios: antes todos proprietários rurais deveriam proteger uma área de 50m ao redor das nascentes, agora, sob o título de “área rural consolidada”, a proteção exigida legalmente será de apenas 15m. Nós temos hoje um sistema de captação extremamente fragilizado e as margens dos reservatórios se encontram em total ausência desta mínima proteção.

A maior parte da população brasileira se mostrou contra a aprovação do Código, mas mesmo assim os parlamentares o aprovaram, evidenciando mais uma vez a distorção política na democracia representativa. A mesma dicotomia identificada entre a bancada ruralista e a vontade popular está presenta na incompatibilidade entre agronegócio e preservação ambiental. Uma agricultura sábia recupera o meio ambiente e aumenta a produtividade, não a destrói inconsequentemente agindo às cegas e tomando como verdade uma ilusória infinidade dos recursos naturais.

Rio Paraíba do Sul
O Rio Paraíba do Sul resulta da confluência dos rios Paraibuna e Paraitinga, que nascem no Estado de São Paulo, a 1.800 metros de altitude, na Serra da Bocaina. O curso da água percorre 1.150 km, passando por Minas Gerais e Rio de Janeiro, até desaguar no Oceano Atlântico em São João da Barra (RJ). Os principais usos da água na bacia são: abastecimento, diluição de esgotos, irrigação e geração de energia hidrelétrica. Ao todo, quase 16 milhões de pessoas recebem água do Paraíba do Sul. Um grande número para um grande problema ambiental.

Um estudo estatístico, conduzido por Marengo e Alves, do CPTEC/Inpe, já demonstrava a tendência de queda acentuada na vazão do Rio Paraíba do Sul, piorando ano a ano, desde 1960. A partir daí podem-se notar os problemas estruturais relativos ao consumo de água na região, que não foi ampliado adequadamente e continua calcado apenas no aumento da captação da água do rio. Paralelo a isto, outro problema é a redução do volume de água e a concentração de esgoto não tratado causa a proliferação de algas prejudiciais à saúde, principalmente na represa do Funil. As estações de tratamento de água aumentam a quantidade no uso do cloro e de sulfato de alumínio, que são prejudiciais à saúde e ao ecossistema, não esquecendo que o Rio Paraíba do Sul é campeão em contaminação por hormônios (estradiol e estriol).

Em Volta Redonda, o desperdício na distribuição de água chega a 40%. A Avenida Almirante Adalberto de Barros Nunes, a Beira Rio, se tornou o maior problema na distribuição de água de Volta Redonda nos últimos dias. Durante a semana passada, a forte chuva provocou duas rupturas na tubulação no período de 24 horas. No último mês o prefeito Antonio Francisco Neto (PMDB) contratou uma empresa sueca para consultoria com o intuito de solucionar a crise hídrica. Pasmem, dentre os projetos apresentados pela empresa estava a proposta de instalação de uma usina termoelétrica. O uso de energia termelétrica provoca o lançamento de gases na atmosfera e ocorre o despejo água quente no meio ambiente. O maior impacto ambiental produzido pelas termoelétricas são os gases, muitos deles de efeito estufa. São produzidos óxidos e dióxidos de enxofre, óxidos de nitrogênio, monóxido e dióxido de carbono, outros gases e particulados. Resolução de um problema com outro?

Não é crise, é colapso! Racionamento para quem?
O consumo residencial de água é 4% do total, o agronegócio consome mais de 70%. Ele é responsável pela exportação de 112 trilhões de litros d'água por ano, ao passo que apenas 15 trilhões seriam necessários para abastecer toda a população brasileira no mesmo período. Um consumo 7,5 vezes maior que o da população total do país. E está faltando água pra quem? E quem está sofrendo racionamento?

Na disputa propositiva do parlamento, no último dia 05 o deputado estadual Flávio Serafini (PSOL-RJ) apresentou o Projeto de Lei que cria o Plano de Urgência Hídrica, o qual em caso de escassez de recursos hídricos o consumo humano e dessedentação animal devem ser prioridades. A água destinada ao uso doméstico não deve se encontrar disponível em menor proporção do que a quantidade destinada ao latifúndio e ao agronegócio. 
Nossas vidas valem mais que os lucros de poucos que detêm riqueza cifrada em lotes e arrobas!

Além do desastre natural que representa a super exploração de um rio da importância hídrica do Paraíba do Sul, a falta de planejamento no abastecimento de água de regiões com grande crescimento econômico e demográfico é um fato de irresponsabilidade e descomprometimento dos respectivos poderes públicos estaduais. O rio não pode continuar sendo a única fonte de abastecimento dessas regiões.

Água não é mercadoria. A administração desse recurso fundamental foi concedida à iniciativa privada tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro. Além disso, os mesmos reservatórios de água estão associados a usinas de geração de energia, também concedidas à iniciativa privada. Claramente, está posto um conflito de interesses muito perigoso para a segurança do abastecimento hídrico das populações atendidas. A transposição do Rio Paraíba a fim de abastecer o também negligenciado sistema de abastecimento Cantareira, significa a solução ara um sistema de abastecimento falido usando outro sistema também falido.

De acordo com Alexandre Costa, Ph. D. em Ciências Atmosféricas (UECE), e militante do PSOL, “é preciso atuar embaixo, na adaptação, mudando a gestão da água, adaptando casas, adotando reuso e sobretudo recusando a demanda do grande capital materializado no agronegócio, grande indústria e setor energético. Mas é preciso atuar em cima com igual radicalidade e urgência, cortando as emissões de CO2 e demais gases de efeito estufa, revertendo o processo de desmatamento e assegurando o direito à terra aos povos originários, nem que seja "apenas" em nome do destino da nossa própria civilização”.